quinta-feira, 25 de novembro de 2010

[Documentário] Foucault, por ele mesmo – Philippe Calderon



head foucault [Documentário] Foucault, por ele mesmo   Philippe Calderon
As teorias sobre o saber, o poder e o sujeito romperam com as concepções modernas destes termos, motivo pelo qual é considerado por certos autores, contrariando a própria opinião de si mesmo, um pós-moderno. Os primeiros trabalhos (História da Loucura, O Nascimento da Clínica, As Palavras e as Coisas, A Arqueologia do Saber) seguem uma linha estruturalista, o que não impede que seja considerado
Foucault trata principalmente do tema do poder, rompendo com as concepções clássicas deste termo. Para ele, o poder não pode ser localizado em uma instituição ou no Estado, o que tornaria impossível a “tomada de poder” proposta pelos marxistas. O poder não é considerado como algo que o indivíduo cede a um soberano (concepção contratual jurídico-política), mas sim como uma relação de forças. Ao ser relação, o poder está em todas as partes, uma pessoa está atravessada por relações de poder, não pode ser considerada independente delas. Para Foucault, o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades.
No documentário, comentários do próprio Michel Foucault seguem imagens e citações de textos de várias de suas obras importantes, como História da Loucura e As Palavras e as Coisas. Fartas passagens de seus cursos no Collège de France são também divulgadas.

Foucault, por ele mesmo – Philippe Calderon

Ano de Lançamento: 2003
Duração: 62,5 minutos
País de Origem: França
Idioma do Áudio: Françês
Qualidade de Vídeo: VHS Rip
Tamanho: 699.3 MB (divididos em 8 partes)
Legendas: Pt-Br

[Documentário] A Negação do Brasil – O negro nas telenovelas brasileiras – Joel Zito Araújo

anegaodobrasilcartaz [Documentário] A Negação do Brasil   O negro nas telenovelas brasileiras   Joel Zito Araújo
O documentário é uma viagem na história da telenovela no Brasil e particularmente uma análise do papel nelas atribuído aos atores negros, que sempre representam personagens mais estereotipados e negativos. Baseado em suas memórias e em fortes evidências de pesquisas, o diretor aponta as influências das telenovelas nos processos de identidade étnica dos afro-brasileiros e faz um manifesto pela incorporação positiva do negro nas imagens televisivas do país.
Título original: A Negação do Brasil
Gênero: Documentário
Duração: 90 min.
Lançamento (Brasil): 2000
Direção: Joel Zito Araújo
Roteiro: Joel Zito Araújo
Produção: Joel Zito Araújo, Luis Antonio Pillar, Juca Cardoso e Vandy Almeida
Co-produção: Casa De Criação Cinema
Fotografia: Adrian Cooper e Cleumo Segond
Edição: Joel Zito Araújo e Adrian Cooper
Consultora: Solange Couceiro de Lima
Som: Tonin Murici e Joaquim Santana
Premiações
- Melhor Documentário e Melhor Pesquisa: É Tudo Verdade / It’s true – 6º Festival Internacional de Documentários – 2001. SP-RJ;
- Troféu “Gilberto Freyre de Cinema” e Troféu de “Melhor Roteiro de Documentário”; 5º Festival de Cinema do Recife – 2001.
- Roteiro premiado pelo Concurso Nacional de Documentários do Ministério da Cultura de 1999, por A Negação do Brasil.
Curiosidades
- A Negação do Brasil foi selecionado para os Festivais e Mostras Internacionais: Festival Internacional do Documentário e Novos Media do Porto –, Portugal. 2001. New York African Diaspora Film Festival, 2001. Festival Internacional de Cinema RIO BR 2001. Habana Film Festival / Festiva Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano. 2001. I Muestra de Cine e Video Documental de Madrid, 2001. The 10th Annual Pan African Film Festival – Los Angeles, CA USA. 2002. 5th Annual Internacional Festival of New Cinema of the Americas. Austin,Texas. 2002. Festival International de Biarritz – Le Prix Union Latine du Film Documentaire – 2002. Mostra Brazil on Film – Novo Cinema Novo. London. 2002. FESPACO – panAfrican Film Festival 2003. Burkina Fasso. CINE-SUL 2003, Rio de Janeiro, RJ. African Diaspora Film Festival in Chicago, June 20-26 2003. 3 Continents Human Rights Festival (2003)- Johannesburg -South Africa. 7e Festival Ecrans Noirs – Camarões. 2005. Cycle 3 Villes do Brasil – Fórum dês Images / Paris. 2005.The 2nd UK Brasilian Film Festival – Londres. Set/2006. Festival du film Brésilien – Bruxelas, Set/2006. Mostra de Cinema Negro de Cuiabá – 2006. 19º. Rencontres Cinemas d’Amerique Latine de Tolouse, mar 2007. Orumilá Zumbi Mostra Cinema IBRIT Milano – Itália. Nov 2008.
Baixe as 6 partes escolhendo entre os servidores disponíveis, e depois junte com o winrar.

A Negação do Brasil – O negro nas telenovelas brasileiras – Joel Zito Araújo

Tamanho: 700mb | Formato: mkv | PDL

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

005. Dicas sobre usos educacionais de blogs

No começo de 2005 traduzi um ótimo material da edublogueira Anne Davis. Trata-se de uma indicação sobre possibilidades educacionais de uso dos blogs. Ou, dito de outra forma, trata-se de um elenco de respostas para educadores que fazem a pergunta “blogar pra que?”. Como as idéias de Anne Davis continuam muito atuais, resolvi reproduzir o citado texto aqui. Segundo a autora, estas são as possiblidades de uso de blogs no campo da educação:


Você pode criar um diário eletrônico reflexivo para …

Refletir sobre suas próprias experiências docentes.
Ter um registro sobre experiências de capacitação docente.
Escrever a descrição de uma unidade específica de ensino.
Descrever o que funcionou para você na sala de aula, assim como o que não funcionou.
Fornecer alguma dica de ensino para outros docentes.
Escrever o que você aprendeu com outro professor.
Explicar os insights que você tem a partir do que acontece na sala de aula.
Compartilhar idéias de atividades de ensino ou jogos de linguagem para uso em sala de aula.
Fornecer dicas de “como fazer” no uso específico de tecnologias em sala de aula, descrevendo como você usou determinadas tecnologias em sua classe.
Explorar assuntos importantes sobre ensino e aprendizagem.

Você pode iniciar um blog da classe para …
Postar mensagens sobre informações úteis tais como calendário, agenda de eventos, tarefas de casa e etc.Postar tarefas baseadas na leitura de referências recomendadas, e solicitar aos alunos que respondam em seus próprios blogs, criando um tipo de portfólio de seus trabalhos.
Comunicar-se com pais se você está ensinando numa escola elementar.
Postar desafios para a escrita.
Fornecer exemplos de trabalho em sala de aula, de atividades de vocabulário, ou de jogos gramaticais.
Fornecer exercícios de leitura on line para que seus alunos leiam e “reajam”.
Reunir e organizar recursos da Internet para cursos específicos, fornecendo links para sites apropriados assim como informações sobre sua relevância.
Postar fotos e comentários sobre atividades em classe.
Convidar os alunos a comentarem ou postarem mensagens sobre determinados assuntos com o objetivo de lhes dar “voz” por meio da escrita.
Publicar bons exemplos de redações dos alunos.
Expor produtos de arte, poesia e histórias criativas dos alunos.
Criar um site de ensino dinâmico, postando não somente assuntos relacionados com atividades da classe, mas também atividades, tópicos de discussão, links com informação adicional, informação sobre tópicos que os alunos estão estudando, leituras para inspirar a aprendizagem.
Criar círculos de literatura.
Criar clubes do livro on line.
Fazer uso do comentário para que os alunos publiquem mensagens sobre tópicos utilizados no desenvolvimento de habilidades lingüísticas.
Solicitar aos alunos para eles criarem seus próprios blogs individuais do curso, onde postarão suas próprias idéias, reações e trabalhos escritos.
Postar tarefas para levar em frente aprendizagens baseadas em projetos.
Editar jornais de classe, usando artigos escritos por alunos, assim como fotos que eles possam ter produzido.
Linkar sua classe com outra classe em qualquer lugar do mundo.

Você pode encorajar seus alunos (seja em seu blog, seja por encorajamento via comentários nos blogs individuais deles) a publicarem…
Suas reações a questões intelectualmente instigantes.
Suas reações a fotos que você tenha postado.
Diários pessoais.
Resultados de investigações que eles tenham realizado sobre um tópico do programa.
Suas idéias e opiniões sobre tópicos discutidos em classe.
Você pode incentivar seus alunos a criarem blogs para…

Aprender sobre blogs.
Completar tarefas de redação.
Criar um portfólio sobre sua produção escrita.
Expressar suas opiniões a respeito de tópicos que estão estudando.
Escrever comentários, opiniões, ou questões sobre o noticiário dos jornais ou assuntos de interesse pessoal.
Discutir atividades e dizer o que pensam sobre elas (Você, professor, pode aprender muito com isso!).
Escrever sobre tópicos do programa de estudos, utilizando o novo vocabulário aprendido assim como novas expressões idiomáticas.
Mostrar suas melhores redações.


Você também pode solicitar à classe para criar um blog comunitário para…
Completar trabalho de projeto em pequenos grupos, designando para cada grupo uma tarefa diferente.
Expor produtos de aprendizagens baseadas em projeto.
Completar uma WebQuest.

Original: “Ways to use weblogs in education”, encontrado originariamente em http://anvil.gsu.edu/EduBlogInsights/2004/10/04. , site hoje desativado. Tradução e adaptação: Jarbas Novelino Barato, São Paulo, 2005). Disponível em: http://jarbas.wordpress.com/5-dicas-sobre-usos-educacionais-de-blogs/

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Linguagem Jurídica: o caso do juridiquês

Campanha pela simplificação da Linguagem Jurídica:


Vídeo Sobre a Linguagem Técnica Jurídica





COM COMPLEXIDADE NÃO HÁ IGUALDADE

           José e sua mulher estavam inquietos com a realização do julgamento que definiria se seriam (ou não) indenizados pela morte de seu filho, um jovem que, no auge dos seus 25 anos, caíra de um andaime enquanto trabalhava como pedreiro na construção de um prédio. José –  um agricultor nordestino – tinha  70 anos e nunca havia pisado num tribunal em toda sua vida, assim como sua mulher, a faxineira Dona Maria. O advogado do casal dava como certa a vitória judicial, posto que o andaime utilizado pela construtora, que empregava o rapaz, fora considerado impróprio pelo laudo de um perito. Desde o início da audiência, José não entendia quase nada do que era dito, tanto pelos advogados quanto pelo juiz. Para o agricultor, aquelas expressões e palavras mais pareciam pertencer a um outro idioma, oriundo de um lugar distante e de uma cultura muito antiga, da qual ele nunca havia ouvido falar.
            Data venia, senhores, creio que depois de ouvir um argumento tão arietino em relação ao inopinado óbito do jovem trabalhador, não haverá outra solução, que não seja o deferimento do pedido de seus pais. O aresto não pode mais ser procrastinado ! Fiat justitia ! –  disse o magistrado em tom profético.
           Mais uma vez, as palavras do juiz intrigaram José. Sentia-se mal por não conseguir compreender o que estava sendo dito, ainda mais pelo fato de que o objeto da discussão era uma questão tão importante para a sua vida. “Parece que eu sou incapaz de entender os meus próprios direitos!”, sussurrou para Dona Maria.
          – Não fica com essa cara não ! Logo, logo, o advogado vai dizer o resultado do julgamento para a gente! É claro que a gente não entende essas coisas que eles estão dizendo. Eles passaram anos estudando e lendo esses livros “mais grossos do que as listas telefônicas”! E você Zé?! Você pouco foi  à escola, nunca leu um livro, não sabe de nada, assim como eu! E, para falar a verdade, acho tão bonita e chique a forma como eles falam! –  disse ela.
          “Pode ser que ela tenha razão.”, pensou o agricultor. Mesmo assim, a curiosidade em relação ao que estava sendo dito pelo juiz e pelos advogados incomodava sua mente. Lembrou-se de ter ouvido, num certo momento, a expressão “actori incumbit probatio”. “Será que eles querem dizer que um ator encobriu algumas provas?”, se indagou. Depois , recordou-se de outra expressão utilizada pelo magistrado, algo como “ dies ad quem computatur in termino”. “Será que querem me dar só um computador como indenização?! Acho que ele está dizendo que assim eu vou terminar a minha luta por justiça!”, concluiu irritado. E os aforismos jurídicos não pararam por aí. Muitas outras máximas e palavras exóticas foram ditas pelo juiz e pelos advogados, como por exemplo “ubi eadem est ratio, idem jus” (que José interpretou como uma proposta de indenização, onde ele e a esposa receberiam o direito de comprar um rádio, financiado e sem juros). Já quase no final do julgamento, refletiu e deduziu que não havia entendido praticamente nada daquela audiência, tão aguardada por ele. “Já ouvi falar que a justiça é cega, mas quem parece  cego aqui sou eu, desnorteado nesta conversa tão complicada!”, pensou. Não conseguia aceitar a explicação de sua mulher e, num ato de ousadia, resolveu interromper a fala do juiz, dando-lhe o troco “na mesma moeda”:
        – Senhor Juiz, veja só: estou aqui “ na rosca da venta” com o senhor e não entendo nada do que o senhor fala! Estou me sentindo um verdadeiro “ ababacado”! Para entender o que o senhor e os advogados dizem, só “filando” a tradução de um papel. Que “vuco-vuco”  mais danado! Estou me sentindo como um “xeleléu” qualquer! É de “lascar o cano”! Isto já está me “abufelando”!
       Data venia, Senhor José. O senhor poderia repetir o que acabou de dizer? Não entendi! –  falou o magistrado ao ouvir aquelas curiosas palavras, quebrando assim o protocolo.
         Se, como eu, o senhor tivesse nascido no Nordeste, saberia o significado de tudo isso que acabei de dizer. Saberia que “na rosca da venta” é o mesmo que “ cara a cara”, que   “vuco-vuco” é  “confusão” , que “xeleléu” é “pessoa sem valor” e que “abufelar”  é “irritar”. Viu só como é ruim ouvir uma pessoa e não entender nada do que ela fala, principalmente quando ela está falando algo relacionado com sua vida?! Garanto que se eu também tivesse tido a oportunidade de estudar, como o senhor e estes advogados tiveram, entenderia todas estas “coisas” complicadas que os senhores estão falando aí. Por um acaso, a intenção do senhor é fazer com que eu não entenda o que está sendo julgado? É algum tipo de código? Não são os senhores mesmos que vivem dizendo que o poder deve vir do “povo e para o povo”?! Falando desse jeito eu acho meio difícil! – respondeu  o agricultor.
         Naquele instante, o juiz se deu conta da importância da manifestação de José. Como poderia um cidadão de pouca instrução entender um vocabulário tão erudito, dominado por pouquíssimos setores da sociedade brasileira? Não era aquela uma forma de garantir  poder sobre aqueles que não conseguiam entender a complexa linguagem usada no meio jurídico? Percebeu que toda aquela “pompa verbal” (até então vista por ele como apenas uma tradição do ritual jurídico) reforçava ainda mais a opressão e a gritante disparidade social existentes no Brasil. Tratava-se de uma afronta à democracia, posto que (na prática) impedia a compreensão e a utilização do Poder Judiciário por grande parte do povo brasileiro. Assim sendo, daquele dia em diante, resolveu contribuir ainda mais para a formação de uma sociedade verdadeiramente igualitária e justa: “aposentou” para sempre o “juridiquês”.
        

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A ditamole

Boaventura de Sousa Santos
Se nada fizermos para corrigir o curso das coisas, dentro de alguns anos se dirá que a sociedade portuguesa viveu, entre o final do século XX e começo do século XXI, um luminoso mas breve interregno democrático. Durou menos de quarenta anos, entre 1974 e 2010. Nos quarenta e oito anos que precederam a revolução de 25 de Abril de 1974, viveu sob uma ditadura civil nacionalista, personalizada na figura de Oliveira Salazar.
A partir de 2010, entrou num outro período de ditadura civil, desta vez internacionalista e despersonalizada, conduzida por uma entidade abstracta chamada “mercado”. As duas ditaduras começaram por razões financeiras e depois criaram as suas próprias razões para se manterem. Ambas conduziram ao empobrecimento do povo português, que deixaram na cauda dos povos europeus. Mas enquanto a primeira eliminou o jogo democrático, destruiu as liberdades e instaurou um regime de fascismo político, a segunda manteve o jogo democrático mas reduziu ao mínimo as opções ideológicas, manteve as liberdades mas destruiu as possibilidades de serem efectivamente exercidas e instaurou um regime de democracia política combinado com fascismo social. Por esta razão, a segunda ditadura pode ser designada como ditamole.
Os sinais mais preocupantes da actual conjuntura são os seguintes. Primeiro, está a aumentar a desigualdade social numa sociedade que é já a mais desigual da Europa. Entre 2006 e 2009 aumentou em 38,5% o número de trabalhadores por conta de outrém abrangidos pelo salário mínimo (450 euros): são agora 804.000, isto é, cerca de 15% da população activa; em 2008, um pequeno grupo de cidadãos ricos (4051 agregados fiscais) tinham um rendimento semelhante ao de um vastíssimo número de cidadãos pobres (634.836 agregados fiscais). Se é verdade que as democracias europeias valem o que valem as suas classes médias, a democracia portuguesa pode estar a cometer suicídio.
Segundo, o Estado social, que permite corrigir em parte os efeitos sociais da desigualdade, é em Portugal muito débil e mesmo assim está sob ataque cerrado. A opinião pública portuguesa está a ser intoxicada por comentaristas políticos e económicos conservadores – dominam os meios de comunicação como em nenhum outro país europeu – para quem o Estado social se reduz a impostos: os seus filhos são educados em colégios privados, têm bons seguros de saúde, sentir-se-iam em perigo de vida se tivessem que recorrer “à choldra dos hospitais públicos”, não usam transportes públicos, auferem chorudos salários ou acumulam chorudas pensões. O Estado social deve ser abatido. Com um sadismo revoltante e um monolitismo ensurdecedor, vão insultando os portugueses empobrecidos com as ladainhas liberais de que vivem acima das suas posses e que a festa acabou. Como se aspirar a uma vida digna e decente e comer três refeições mediterrânicas por dia fosse um luxo repreensível.
Terceiro, Portugal transformou-se numa pequena ilha de luxo para especuladores internacionais. Fazem outro sentido os actuais juros da dívida soberana num país do euro e membro da UE? Onde está o princípio da coesão do projecto europeu? Para gáudio dos trauliteiros da desgraça nacional, o FMI já está cá dentro, e em breve, aquando do PEC 4 ou 5, anunciará o que os governantes não querem anunciar: que este projecto europeu acabou.
Inverter este curso é difícil mas possível. Muito terá de ser feito a nível europeu e a médio prazo. A curto prazo, os cidadãos terão de dizer basta! Ao fascismo difuso instalado nas suas vidas e reaprender a defender a democracia e a solidariedade tanto nas ruas como nos parlamentos. A greve geral será tanto mais eficaz quanto mais gente vier para a rua manifestar o seu protesto. O crescimento ambientalmente sustentável, a promoção do emprego, o investimento público, a justiça fiscal, a defesa do Estado social terão de voltar ao vocabulário político através de entendimentos eficazes entre o Bloco de Esquerda, o PCP e os socialistas que apoiam convictamente o projecto alternativo de Manuel Alegre.
Fonte: Informação Alternativa – http://infoalternativa.org

Proposta inusitada

A dificuldade de pensar com a própria cabeça

Revista Educação
Nos tempos em que era professor da Unicamp, fui designado presidente da comissão encarregada da seleção dos candidatos ao doutoramento, o que é um sofrimento. Dizer "esse entra", "esse não" é uma responsabilidade dolorida da qual não se sai sem sentimentos de culpa. Como decidir sobre a vida de uma pessoa amedrontada em 20 minutos de conversa? Mas não havia alternativa. Essa era a regra. Os candidatos amontoavam-se no corredor recordando o que haviam lido da imensa lista de livros cuja leitura era exigida.

Aí tive uma ideia que julguei brilhante. Combinei com os meus colegas que faríamos a todos os candidatos uma única pergunta, a mesma pergunta. Assim, quando o candidato entrava trêmulo e se esforçando por parecer confiante, eu lhe fazia a pergunta, a mais deliciosa de todas: "Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar!".

Pois é claro! Não nos interessávamos por aquilo que ele havia memorizado dos livros. Muitos idiotas têm boa memória. Interessavama-nos por aquilo que ele pensava. Poderia falar sobre o que quisesse, desde que fosse aquilo sobre o que gostaria de falar. Procurávamos as ideias que corriam no seu sangue! 

Mas a reação dos candidatos não foi a esperada. Foi o oposto. Pânico. Como se esse campo, aquilo sobre que eles gostariam de falar, lhes fosse totalmente desconhecido, um vazio imenso. Papaguear os pensamentos dos outros, tudo bem. Para isso eles haviam sido treinados durante toda a sua carreira escolar, a partir da infância. Mas falar sobre os próprios pensamentos - ah! isso não lhes tinha sido ensinado. Nunca lhes havia passado pela cabeça que alguém pudesse se interessar por aquilo que estavam pensando. Nunca lhes havia passado pela cabeça que os seus pensamentos pudessem ser importantes.

Uma candidata teve um surto e começou a papaguear compulsivamente a teoria de um autor marxista. Acho que pensou que aquela pergunta não era para valer. Não era possível que estivéssemos falando sério. 

Deveria ser uma dessas "pegadinhas" sádicas, cujo objetivo é confundir. Por via das dúvidas, optou pelo caminho tradicional e tratou de demonstrar que havia lido a bibliografia. Aí eu a interrompi e disse: "Eu já li esse livro. Sei o que está escrito nele. E você está repetindo direitinho. Mas não queremos ouvir o que já sabemos. Queremos ouvir o que não sabemos. Queremos que você nos conte o que você está pensando, os pensamentos que a ocupam…". Ela não conseguiu. O excesso de leitura a havia feito esquecer e desaprender a arte de pensar.Parece que esse processo de destruição do pensamento individual é uma consequência natural das nossas práticas educativas. Quanto mais se é obrigado a ler, menos se pensa. Schopenhauer tomou consciência disso e o disse de maneira muito simples em alguns textos sobre livros e leitura. O que se toma por óbvio e evidente é que o pensamento está diretamente ligado ao número de livros lidos. Tanto é assim que se criaram técnicas de leitura dinâmica que permitem que se leia Grande Sertão - Veredas em pouco mais de três horas. Ler dinamicamente, como se sabe, é essencial para se preparar para o vestibular e para fazer os clássicos fichamentos exigidos pelos professores. Schopenhauer pensa o contrário: " É por isso que, no que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante."


Fonte: Revista Educação – http://revistaeducacao.uol.com.br

Os verdadeiros inimigos do Capitão Nascimento

Nascido há um século e meio no sul da Itália, o crime organizado se tornou um meganegócio global que movimenta cerca de 3 trilhões de dólares por ano e fez do Brasil uma de suas principais bases de operação.
Carlos Amorim


Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) lideram rebelião em presídio de Sorocaba, em dezembro de 1997.
No verão de 1863, os atores e compositores Giuseppe Rizzotto e Gaetano Mosca apresentaram no Teatro Popular de Palermo, na capital da Sicília, uma ópera que marcou época. O espetéculo Il mafiusi de la Vicaria (“Os mafiosos da prisão de Vicária”) revelou a existência de uma organização criminosa chamada Máfia e mostrou como um grupo de homens comandava as atividades criminosas na Sicília de dentro de uma penitenciária. A montagem descrevia também os rituais de iniciação, os esquemas de proteção e extorsão atrás das grades e o código de silêncio – a Omerta – da quadrilha. Um enredo que conhecemos muito bem e que vemos se repetir no Brasil um século e meio mais tarde.
No dialeto siciliano, a palavra máfia queria dizer belo, audacioso, autoconfiante. No entanto, já em 1864, o nobre italiano Nicoló Turrisi Colonna, o barão de Buonvicino, denunciava a verdadeira natureza do grupo em seu livro A segurança pública na Sicília. Segundo ele, a Máfia era uma organização familiar, armada e secreta, surgida na década de 1840. Além da autoproteção e da cobrança de “taxas de funcionamento” a comerciantes e empresários, os criminosos sicilianos controlavam as plantações de limões e laranjas, principal riqueza da ilha. A cada ano, 400 mil caixas de cítricos italianos eram exportadas para os Estados Unidos.
Nas duas primeiras décadas do século XX, além dos limões, a Máfia exportou para a América dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças membros das famílias que fundaram a organização. Em 1930, os mafiosos sicilianos dominavam todas as atividades ilícitas em cidades como Nova York, Seatle, Chicago e Filadélfia. Controlavam a venda e a produção ilegal de bebidas, a prostituição, o jogo e o tráfico de ópio vindo do Extremo Oriente. Em terras do Tio Sam, fundaram a Cosa Nostra (Coisa Nossa).
Um desses jovens e ambiciosos imigrantes era Charles “Lucky” Luciano, nascido na Sicília em 24 de novembro de 1897. Seu nome verdadeiro era Salvatore Lucania e ele organizou e comandou a maior e mais violenta gangue de Nova York (“The Five Points Gang”), especializada em assassinatos por encomenda e cobrança de dívidas. Trabalhava para oscapos da família Genovese, uma das cinco maiores da Máfia nos Estados Unidos, mas não recusava pedidos dos demais chefes do crime, como os Bonanno, os Lucchese, os Gambino e os Colombo. Os Gambino deram origem à trilogia do Poderoso chefão, no cinema, originários que eram da cidade de Corleonne, na Sicília; a família Colombo, por sua vez, inspirou a série de TV Os Sopranos.
Na época, as famílias travavam longas e sangrentas guerras entre si. “Lucky” Luciano não se conformava com essas lutas fratricidas, que considerava uma perda de tempo e de dinheiro. Usando seu prestigio – e suas armas – impôs a criação de uma comissão dirigente na Cosa Nostra, formada por elementos das cinco famílias e capaz de organizar o crime em escala nacional. O comitê existe até hoje.
Visionário, Luciano percebeu que a Máfia podia acompanhar o ritmo acelerado de crescimento dos Estados Unidos. Apostou no controle dos sindicatos de trabalhadores, promovendo ou contendo greves, ganhando dinheiro por meio de filiações, fundos de pensão e extorquindo os capitalistas. Atuando no submundo e nos negócios legais, ele é considerado o “pai” da moderna criminalidade organizada, que se estabelece como empresa.
No início da década de 1950, os Estados Unidos viviam sua “Era de Ouro”, e a Máfia de aproveitou da prosperidade generalizada: faturava centenas de milhões de dólares por ano, não pagava impostos e era tolerada pelas autoridades governamentais. Um dos seus colaboradores mais notáveis era Joseph Kennedy, pai do futuro presidente John Fitzgerald Kennedy. Muitos outros políticos, incluindo governadores e senadores, estavam na folha de pagamento da Máfia.
A prosperidade levou a organização criminosa a investir em outras terras, especialmente no Caribe e na América do Sul. Transformou Cuba na “Disneylândia” do jogo, da prostituição e do tráfico. Colocou dinheiro também nas lavouras de coca na Colômbia e no Peru, inaugurando a etapa dos cartéis da cocaína. O chefe mafioso da operação tinha um nome verdadeiro muito curioso e sugestivo: Johnny Traficantte.
A coisa toda ia muito bem até que Fidel Castro derrubou o governo de Fulgêncio Batista (sócio de Traficantte), expropriou todos os cassinos e acabou com os mafiosos em Havana. A organização criminosa teve um prejuízo de 1 bilhão de dólares em Cuba, e jurou vingança: participou, com a CIA, de oito tentativas de assassinar o líder revolucionário.
Com a morte de Charles “Lucky” Luciano, em 1962, a Cosa Nostra voltou a se dividir: os conservadores queriam continuar com a influência política, o jogo, as mulheres e as bebidas; os “modernos”, no entanto, queriam inaugurar a etapa industrial do tráfico de drogas. E foram eles que ganharam a parada. Nos anos 1960 e 1970, investiram furiosamente nas drogas, assumindo o controle das rotas da heroína do Extremo Oriente para a Europa e da cocaína da América Latina para os Estados unidos e o Canadá.
Um relatório do FBI de 2005 revela que as organizações da Máfia, chamadas de “empresas criminosas” pela polícia federal americana, empregam 250 mil pessoas em todo o mundo. O documento oficial do Departamento de Justiça, assinado por Robert Muller III, então diretor-geral do órgão, informa ainda que tais “empresas criminosas” têm lucro anual de 1 trilhão de dólares. Isso remeteria a um movimento total de 2 ou 3 trilhões de dólares.
O primeiro registro de atuação da Máfia no Brasil data de 1972. O capo mafioso Tommaso Buscheta, o Dom Masino, um dos mais influentes líderes da Máfia siciliana, instalou no litoral de São Paulo a “Conexão Ilha Bela”, destinada a trazer drogas por atacado do porto de Marselha, na França, para os Estados Unidos e o Canadá, passando pelo litoral paulista. Foi preso no Rio de Janeiro, pagou propina, fugiu, foi apanhado novamente pela Polícia Federal e terminou extraditado para a Itália. Durante os anos de chumbo da ditadura militar, as atividades de Tommaso Buscheta não prosperaram. Só uma década depois o crime organizado conseguiria fincar suas garras entre nós.
Na América Latina, um homem poderoso era sócio da Máfia na exportação de cocaína. Em 1982, o megatraficante colombiano Pablo Escobar, chefe do cartel de Medellín, que produzia 60% da cocaína consumida no mundo, decidiu que o Brasil, além de corredor de passagem da droga, poderia se tornar um importante mercado consumidor.
Governado por um general decadente, com um regime militar caindo pelas tabelas, reinando a corrupção e a especulação financeira, o Brasil parecia aos olhos de Escobar um território fértil para implantar o tráfico em níveis comerciais. Com a população concentrada em grandes cidades, uma juventude que despertava de duas décadas de tirania, com uma vida noturna agitada, o país reunia algumas das condições para o consumo de drogas em larga escala.
O traficante entrou em contato com o crime organizado local: os “banqueiros do bicho”, que também tinham um comando unificado, por meio do qual controlavam as apostas, o contrabando, a prostituição, as escolas de samba e as casas noturnas no Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Bahia. Os grandes “bicheiros”, como Castor de Andrade, Capitão Guimarães e Anísio Abrahão David, no entanto, tinham atividades legais, apoiavam políticos, apareciam na televisão e frequentavam as altas rodas. Como não queriam ser confundidos com traficantes, nossos mafiosos optaram por não se envolver com as drogas.
Das negociações com Pablo Escobar, resultou um acordo por meio do qual um contraventor de segundo escalão, Antônio José Nicolau, o Toninho Turco, fundou uma organização especialmente voltada para o tráfico, uma espécie de interface com o Cartel de Medellín. O problema era: onde colocar as drogas, onde vendê-las? Os melhores lugares, evidentemente, seriam as favelas localizadas na zona sul do Rio e nas proximidades do centro da cidade, onde estariam concentrados os consumidores em potencial.
Essas comunidades pobres, no entanto, estavam sob o controle de uma organização surgida nos porões da penitenciária da Ilha Grande, nos tempos da convivência de presos políticos com detentos comuns nas cadeias da ditadura militar. O nome do grupo era Comando Vermelho (CV). Fortemente influenciado pela opção revolucionária dos anos 1970, o grupo se dedicava ao roubo armado e ao resgate de companheiros presos.
Aos poucos, em virtude de suas ações espetaculares, a organização sentiu o peso da repressão e perdeu alguns dos seus melhores quadros. Nas cadeias, líderes como Willian da Silva Lima, o Professor, fundador do CV e ideólogo da organização, foram substituídos por bandidos como Rogério Lengruber, o Bagulhão, José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, e outros ligados ao tráfico. Estava aberto o caminho para o acordo com Escobar.
Toninho Turco formou uma quadrilha de 90 integrantes, dos quais 61 eram policiais e ex-policiais. Chegou a traficar, junto com o CV, entre 8 e 15 toneladas de cocaína por mês, de acordo com os arquivos da Polícia Federal. A droga era vendida no país ou enviada aos Estados Unidos e Canadá. Toninho foi morto em 11 de fevereiro de 1986, em uma ação conjunta dos federais, do Exército e da polícia estadual do Rio de Janeiro. Seu braço direito, um tenente da Polícia Militar carioca, foi preso, anos depois, em Lugano, na Suíça, durante uma investigação de lavagem de dinheiro.
A morte de Toninho Turco é o fio da meada que nos leva a Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que o substituiu nas negociações internacionais do tráfico de drogas. Até ser preso na Colômbia, atuando junto ao Bloco 16 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc.
Agora não sabemos mais quem são os nossos criminosos organizados envolvidos com o tráfico em escala comercial. Os próprios colombianos resolveram morar aqui, como Juan Carlos Abadia, o poderoso chefão do Cartel Del Norte, organização que substituiu Pablo Escobar. Ele foi preso pela Polícia Federal, em 7 de outubro de 2007, a partir de pistas reveladas pelo DEA (Drug Enforcement Administration, agência americana de combate ao tráfico), em Aldeia da Serra, bairro de luxo de São Paulo onde vivem artistas de televisão, empresários e gente acima de qualquer suspeita. Abadia foi extraditado para os Estados Unidos em tempo recorde, mandado para uma prisão no estado de Nova York e jogado em uma cela de vidro blindado, de onde jamais sairá.
Desde a criação do Comando Vermelho, após a anistia de 1979, inúmeras organizações do gênero surgiram no país: o Primeiro Comando da Capital (PCC), o CV Nordeste, a Organização Plataforma Armada (OPA) e mais um incontável número de grupos que seguem o exemplo da primeira organização político-militar do crime, o CV. O PCC, de São Paulo, que se intitula o “Partido do Crime”, sinaliza que pretende atuar no cenário político. Em maio e junho de 2006, durante a campanha para presidente, realizou 295 ataques armados contra “alvos” do poder público no estado.
As previsões de Pablo Escobar, de que o Brasil poderia se transformar em um enorme centro consumidor de drogas, se confirmaram. Hoje somos o segundo maior mercado de entorpecentes do mundo ocidental. A Polícia Federal brasileira, entre as dez melhores do mundo, apreende de 8 a 9 toneladas de cocaína por ano, um recorde continental. Em termos de maconha, são 40 toneladas. Das drogas sintéticas, tipo LSD e Ecstasy, quase duas toneladas são interceptadas por ano. Os especialistas no assunto, no entanto, asseguram que as apreensões representam apenas de 10 a 12% do movimento total do tráfico. Faça as contas, leitor, para ver o quanto passa pelas alfândegas e pelas fronteiras.
Esses números mostram que o Brasil se tornou um dos maiores celeiros do crime organizado mundial, com todas as consequêcias que isso traz em matéria de corrupção das instituições, compra de sentenças, punição apenas para os pobres, violência gratuita e banalizada. Na condição de segundo maior consumidor de drogas do mundo ocidental, temos um futuro duvidoso e alarmante.


Fonte: História Viva – http://www2.uol.com.br/historiaviva/

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Reflexos da violência na Literatura infanto-juvenil - Antonieta Dias de Moraes

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Diálogos sobre o conhecimento - Paul Feyerabend

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Performance, Recepção, Leitura - Paul Zumthor

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O Signo Desconstruído - Rosemary Arrojo





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Metodologia do Trabalho Cientifico - Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi

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Lendo Imagens - Alberto Manguel

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A família em desordem - Elisabeth Roudinesco

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A corrida para o século XXI : no Loop da montanha-russa - Nicolau Sevcenko

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Os (des)caminhos do meio ambiente - Carlos Walter Porto Gonçalves


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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Linguagem, escrita e poder - Maurizzio Gnerre

Link: http://www.4shared.com/file/239122853/10fc76af/GNERRE_Maurizzio_-_Linguagem_e.html

O nome da Rosa - Umberto Eco

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Homo Ludens – o jogo como elemento da cultura - Johan Huizinga

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O que faz do Brasil, Brasil? Roberto DaMatta

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Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social - Boaventura Sousa Santos

Link: http://www.4shared.com/document/nGXWMu_f/SANTOS_Boaventura_de_S_Renovar.html

Critica Cultural – Teoria E Pratica - Marcelo Coelho

Link: http://www.4shared.com/document/4JCLNQiK/COELHO_Marcelo_Crtica_Cultural.html

Cidadania No Brasil: O Longo Caminho - José Murilo de Carvalho

Link: http://www.4shared.com/document/-NpLmjyn/OBG_-_Cidadania_no_Brasil_Jos_.html

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Que é ser crítico? (breve ensaio sobre a banalização da crítica)

por Raymundo de Lima*

"Eu escrevi o que entendo e os críticos escrevem o que eles entenderam. Eu, por princípio nunca faço comentários sobre as críticas”.
José Saramago

"O crítico não deve fazer ataques pessoais e sucumbir ao vedetismo”.
Daniel Piza
Espero que todos vocês sejam independentes, inovadores, pensadores críticos que farão exatamente o que eu digo
Há consenso entre professores que o ensino escolar deve desenvolver a capacidade crítica nos alunos. A nova A LDB 9394/96 estabelece que a educação média objetiva “...o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico...”(BRASIL. MEC, 1999,p. 20).
No período da ditadura militar professores podiam ser presos se ensinassem os alunos a serem cidadãos críticos ao regime político vigente, ao capitalismo selvagem etc. Na década de 1980, “a História era disciplina que se encarregava de fazer com que os alunos e professores exercessem o papel de sujeitos ativos na construção do seu conhecimento. Reconhecer e problematizar as experiências vividas pelos alunos e professores são atos imprescindíveis para a construção do conhecimento crítico”, observa Arthur Versiani Machado, do CEFET de Ouro Preto.  
Existe, porém, o problema sobre a compreensão do que é ser crítico. Noutros termos, há muita arbitrariedade no uso da palavra crítica, desde o julgamento popular de uma “situação crítica” até a conceituação originada na filosofia de: “espírito crítico”[1], “pensamento crítico”, “senso crítico”, “atitude crítica”, “postura crítica”, “postura crítica de análise”, “análise crítica”, “capacidade crítica”, “apreensão crítica da realidade”, “concepção crítica”, “sujeito crítico”, entre outras.
Existe uma associação indevida entre crítica com o ato de apontar defeitos ou de “descer-a-lenha” no outro ou na sua obra. Criticar uma obra de arte, uma teoria, os políticos, o governo, o técnico de futebol, o estilo do professor, os alunos, no fundo, consiste tão somente em apontar defeitos? Ou é imprescindível ao crítico investir numa argumentação consistente e fala respeitosa ou polida?
John Passmore (1979) observa que ser crítico não é simplesmente se posicionar contra, por exemplo, disparar contra uma obra ou autor “sua” opinião pessoal (ex.:“não gosto de Picasso”, “ópera é para aristocratas e burgueses”, “música x é chata”), ou usar argumentos estereotipados ou falaciosos sobre um determinado sistema de idéias que ele discorda.
Há professores cujo estilo vulgar de ser crítico levam os alunos reproduzirem o seu modo estereotipado de opinar sobre as coisas sem pensar autocriticamente. Segundo o autor acima, esse processo de pseudo ensino crítico chama-se doutrinação. Por exemplo, diante de uma pintura abstrata o aluno é levado a responder  automaticamente: “Isso é decadente”. Ou, ao assistir um curso cuja linha teórica lhe desconcerta, o aluno que foi doutrinado fica com cara de paisagem, isto é, reage com os mecanismos da indiferença e das respostas estereotipadas para si e para os outros. 
*          *          *
Curiosidade: o crítico contumaz, assim que chega ao poder (prefeito, diretor de escola, reitor, etc), tende a deixar de ser crítico. Agora ele faz discursos sobre suas realizações. O prefeito aproveita qualquer oportunidade da mídia para divulgar suas obras na cidade. O diretor da escola escreve panfletos para sua comunidade divulgando mudanças radicais em sua gestão na escola. O reitor se empenha em fazer bons discursos para mudanças cosméticas da  universidade. Assim, a crítica vale apenas para o outro, jamais deve se voltar para si próprio.
O exagero dos discursos das realizações zeradas de autocrítica leva-os a cair na vala do ridículo. Um diretor de escola – conhecido por bater no peito ser comunista  – revela seu lado ridículo ao fazer um discurso plagiando o estilo malufista, por exemplo, ao enumerar suas obras e mudanças radicais na escola. Um prefeito do PP ou DEM fica ridículo querendo se passar por “popular” ou “democrata”. 
Desse modo, a experiência demonstra que o crítico contumaz ao sistema político-econômico, uma vez no governo, se burocrática, passa a gozar de benefícios do poder, e também do auto-engano produzidos pelo cadáver de sua crítica. Se fosse evocado o fantasma desse cadáver talvez lhe dissesse: o mal são os outros que não abdicaram de seu espírito crítico.
Criticar x Achincalhar: as vias do direito
Forma comum de perverter o sentido de crítica é o achincalhe. O Dicionário diz que: achincalhar é ridicularizar, humilhar, chacotear, debochar, escarnecer. Há achincalhe quando o alvo do ataque é a pessoa, não suas idéias. O achincalhador lança mão de todos os estratagemas que foram elencados minuciosamente por Schopenhauer em sua “Arte de ter razão”.
Segundo Ricardo Antônio L. Camargo, “também se configura o achincalhe quando se imputa a alguém fato depreciativo e inverídico ou quando se lhe diz algo gratuitamente ofensivo à dignidade e ao decoro...Quando o fato imputado constitui crime, estamos diante do tipo calúnia. Quando o fato é meramente ofensivo à reputação, estamos diante da difamação. E quando se ofende a dignidade e o decoro de alguém, sem lhe imputar fato, o que se faz é injuriá-lo”. Obs.: Se for configurado crime de calúnia, difamação, e injúria, a vítima pode processar o agressor na justiça.
Portanto, crítica digna deste nome se expressa por argumentos consistentes, fundamentados, e não em ataques pessoais ou achincalhes. Reforçando o já dito, a verdadeira crítica não visa à pessoa, mas o seu enunciado; há o objetivo de contribuir para desvelar o sentido de um discurso ou obra, bem como revelar as artimanhas e a técnica usada pelo autor.
O achincalhe “é sempre corrosivo, é sempre destrutivo, é sempre a base de todos os conflitos que extrapolem motivos puramente materiais. Estereótipos, preconceitos e mesmo ódios passam a ser considerados como o metro pelo qual se medirá a bondade ou a maldade das condutas ou mesmo das pessoas”, analisa Camargo.
Numa reunião, por exemplo, alguém pode criticar uma nova medida administrativa sustentando certos argumentos, outro, carente de argumentos ou querendo se passar como mais “crítico” ataca o primeiro na sua integridade pessoal ou moral, religiosa, sexual, política, ou visa atingir sua cor de pele. O primeiro caso há crítica verdadeira, porque confronta argumentos com (contra)argumentos. Mas o  segundo  não passa de falsa crítica, tanto porque falta-lhe argumentos verdadeiros, e, sobretudo, porque o suposto crítico “joga pra galera”, faz política baixa ou  politicagem com um discurso vazio visando agradar um determinado grupo.
Atacar o oponente com golpes baixos (retórica com falácias, gestos teatrais, lágrimas de crocodilo, se colocar como vítima), não visa a verdade, mas sim, tem a intenção de destruir a pessoa ou idéia. Portanto, é achincalhe quando o suposto crítico “joga pra galera” frases de efeito como:  “ele é de direita”, “você é comunista”, “fulano é neoliberal”.  Geralmente tais frases vêm acompanhadas do estilo debochado, visando despertar risinhos amarelos no grupo caído na rede dos objetos falseados do achincalhador.
Critica e falsa crítica no ambiente de ensino
Um palestrante pode tanto criticar a obra como achincalhar sua pessoa, ou usar de deboches e sarcasmos visando destruir sua obra ou sua imagem pessoal perante a audiência. Cabe aos ouvintes ficarem de prontidão genuinamente crítica tanto para resistir ser doutrinado como para denunciar as falácias e promover a “dialética do esclarecimento” junto ao público.
Na escola, está se tornando freqüente alunos e pais desrespeitarem a professora. Confrontados, eles argumentam que estão apenas criticando o seu trabalho. Ora, se há desrespeito, estão achincalhando-a. O desrespeito não faz parte da verdadeira crítica. Eles poderiam criticar – com polidez e usando argumentos –, sem ofender ou desrespeitar. A professora tem o direito de se defender, também com polidez, usando argumentos e observaando o regulamento da escola.
O estilo crítico-cricri adotado por alguns alunos supostamente politizados e ansiosos em questionar-por-questionar também podem trair o propósito de verdadeiramente criticar. O aluno cri-cri imagina que basta discordar, ou ser do contra, ou estigmatizar o professor disso ou daquilo em vez de apresentar os fundamentos de sua suposta crítica.
Alguns professores acham chato esse tipo de aluno crítico-cricri, porque atrapalha a aula com falas estereotipadas e recortes de um discurso ideológico geralmente  fora do contexto da discussão. Tais alunos costumam seguir uma idéia-guia ou teoria totalizante que para eles “explica tudo” e sabe como “resolver todos os problemas do mundo”. Provavelmente o estilo cri-cri se rendeu aos encantos de um mestre panfletário e se vê convicto de ter encontrado “a verdade toda”. De acordo com os quatro discursos propostos por Lacan, estamos tratando, aqui, do “discurso universitário”, que se autoriza a partir de textos e autores venerados para impor seu saber a outro (o aluno-estudante) e visa produzir nele um contestador com ou sem causa.
O aluno cri-cri incomoda, sem dúvida, mas, pior mesmo é o aluno que passou dessa condição para ser um fanático mudo, onde o juízo crítico lhe foi abolido. Nele, a passagem ao ato[2] é iminente. (ver nos “arquivos do autor” o artigo  “Miséria do discípulo).  Para desarmar o dogmatismo falante Sócrates recomendava humor e ironia. Em vez de irritá-lo, contradizendo seus argumentos no mesmo nível, o verdadeiro professor deve escutá-lo com paciência, tolerância, disposição para o diálogo e questionamentos pontuais que contribuem para abrir o seu pensamento. Todavia, ao fanático mudo, que se leva muito a sério, com suas certezas absolutas, Amós Oz recomenda apenas usarmos o humor.
Crítica na filosofia e na ciência
Ainda que o cientista, ao fazer ciência, sabe que não faz “a”ciência, mas tão somente ele faz um enfoque, um ponto de vista, uma interpretação de uma dada realidade construída por ele, a atividade científica mais importante é crítica constante desta produção (DEMO, 1981, p. 25 – negrito meu). 
Uma crítica apenas sustentada no argumento de autoridade é uma falsa crítica. Pode ser sustentada nos grandes nomes (Marx, Freud, Vigotsky, etc), mas o enunciado pretensamente teórico não passa de uma crendice nessas autoridades tomadas como infalíveis. Especialmente nas Ciências Humanas e Sociais tais “monstros sagrados” do pensamento são abusivamente evocados com uma espécie de cobertor curto para explicar toda ordem de problemas da realidade concreta. Para Demo (op.cit.), eles são substitutos modernos da justificação dogmática, típica da abordagem teológica.
Karl Popper considera o pensamento crítico como sendo não apenas um ideal básico da educação, mas a pedra fundamental da atividade intelectual consciente – especialmente da atividade científica. Na filosofia das ciências, Popper considera que “o ato de criticar e a discussão crítica são nossos únicos meios de aproximação da verdade”[3]. Para esse autor, a ciência se diferencia da pseudociência não por fornecer certezas, mas por sua abertura à crítica e a possíveis refutações. Assim, a atividade científica está sustentada na criticidade, mais exatamente no princípio de autocriticidade, que Popper denomina de “falseabilidade”[4].
Como já foi dito, a verdadeira crítica não se preocupa com apontar defeitos no autor, mas se preocupa em apresentar um saber e uma avaliação aberta do próprio crítico sobre uma obra ou opinião. Ou seja, ainda que use um tom avaliativo, a crítica deve evitar tanto a pretensão de uma objetividade sobre uma obra como se deixar levar pelos sentimentos de amor, ódio, inveja em relação ao seu autor. Trata-se de encontrar uma medida de ser critico, “aberto” tanto na análise como na disposição para o debate plural.
Enquanto a ideologia é a “lógica do silêncio, da ocultação, do camuflamento e da dominação” (CHAUI, 1982), a ciência valoriza a dúvida, suspeita do que é apresentado como verdade absoluta, e, ainda  procura fundamentar seu argumento “crítico” em algum pressuposto teórico e/ou práxis do sujeito crítico-e-autocrítico.
Para Eduardo Luft (2002, 2003) “quem critica (...) tem de carregar consigo alguns pressupostos, pois a crítica pela crítica, ancorada em um suposto vazio, é antes um tipo de ceticismo arbitrário, uma forma velada de dogmatismo”. Portanto, a verdadeira crítica não se preocupa em apontar as falhas que parecem naturais somente ao outro, mas sim, ela se ocupa com os pressupostos de sua fundamentação e de sua própria autocrítica. 
Concluindo.
A educação pode tanto ser direcionada para a doutrinação como para a libertação. Só uma educação voltada para a formação do pensamento crítico pode contribuir para a libertação e autonomia do sujeito.
Portanto, há que ser verdadeiramente crítico em relação a tudo, e nesse caso o crítico poderia até ser acusado de criticismo, lembrando a linha filosófica de Kant. Desde que a crítica se sustenta em argumentos, tem fundamento, é respeitosa, tudo bem. Entretanto, a pessoa crítica contumaz tende a ser desagradável, observações fora de lugar e hora. Ninguém suporta uma pessoa cricrizando tudo e todos, sempre.
Bom senso, ética-moral, elegância no dizer, ter coragem de fazer autocrítica, devem ser imprescindíveis ao crítico genuíno. O bom senso orienta que, antes de atirarmos a primeira pedra crítica devemos nos colocar no lugar do criticado. Infelizmente, no mundo globalizado, parece estar desaparecendo essa qualidade – e arte[5]  –  de se colocar no lugar do outro, que a psicologia denomina empatia.
Referências
CHAUI, M. O que é ideologia. 9.ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.
CHEMAMA, R. Dicionário de psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
DEMO, P. Metodologia científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1981.
LENE, Hérica. Arte de se colocar no lugar do outro. Disponível em: <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=407DAC001>. Acesso em: abril/2008.
LIMA, Raymundo de. Educação no Brasil: o pensamento e atuação de José Mário Pires Azanha. 2005. 296f. Tese de Doutorado em Educação. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
LUFT, Eduardo. Conhecimento e criticidade. In: Um paradigma para a Escola do Século XXI?...Dimensões Epistemológica. Revista de Educação AEC. Brasília: AEC, 2002.
PASSMORE, John. “Ensinando a ser crítico”. In: PETERS, R. S. The Concept of Education. [trad.: Nélio Parra]. Londres: Routledge & Kegan, 1979.
PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. Editora Contexto: 2003.
POPPER, K. A lógica da Pesquisa científica. [trad. Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota]. São Paulo: Cultrix, 1972.
SIEGEL, Harvey. Pensamento crítico como um ideal de educação. In: The Educational Fórum, v. XLV, n. 1, nov.1980, p. 7-23. [Trad. De Riva Roitman/ Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo - apostila].