quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Discurso de Saudação ao neo-acadêmico Paulo José de Oliveira


Por: Magna Campos
 
Caríssima presidente da ALB- Mariana, Andreia Donadon-Leal;
Caro Vice-Presidente da ALB-Mariana, J. S. Ferreira;
Presidente Executivo e Editor da ALB-Mariana, J.B.Donadon-Leal;
 E Secretário-Geral da ALB-Mariana, Gabriel Bicalho;
A todos vocês os meus cumprimentos, nesta tarde de sábado!


Escrever [caros ouvintes] é uma arte que brota n’alma. É uma arte que é alimentada no coração, impulsionada pela mente e grafada na mão”. 

É com essa primeira citação ao trecho de um editorial da Folha Literária Formiga em Letras, escrito por Paulo José de Oliveira, também conhecido pelo pseudônimo de PAJO, que inicio o discurso de saudação ao neoacadêmico. Guiada muito mais pelo calor de sua palavra criação, que pelo “frio” de um currículo que, nem sempre, consegue representar satisfatoriamente o sujeito de quem se fala. Afinal, como afirma o próprio neoacadêmico, ainda no editorial mencionado, é “no escrever que se traduz o eu, mesmo que seja nas entrelinhas, ou na forma de rabisco”.
E escrever, especialmente na literatura, seria realmente ter a possibilidade de criar um outro viver paralelo, no qual o mundo não tem mais que ser ordenado por CRONOS, o deus do tempo, linear, torturante e esvaecente. Na literatura, o caos pode se dissipar, o feio pode se embelezar, o instante pode se eternizar, e em lugar de CRONOS, pode ser consagrado KAIRÓS, o tempo das coisas e não do efeito sobre as coisas. Não mais o tempo da espera, mas o da esperança. O tempo não consumido pelo relógio, mas experimentado em seus instantes-eternos e acima de tudo: saboreado!
Mas literatura não é um luxo escapista, como pode parecer, é criação! E é graças aos desejos e anseios que ela inspira, às mentalidades que [ela] criou e que continua criando, e à humanização do real, que a sociedade ainda é capaz de se libertar de ditaduras, sejam elas econômicas, religiosas, científicas e por que não, cultural, já que vivemos o ápice da sociedade consumista, e nele, a cultura torna-se ela própria um objeto cultural desejável ao consumo, muitas vezes irrefletido, promíscuo e banalizado. É o valor do consumo que se impõe ao próprio valor da coisa consumida.
Afinal, como propõe o escritor sul-americano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2010, Mario Vargas Llosa, ao dizer que:
Quem dúvida que a literatura, além de nos levar ao sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra toda forma de opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto, a ponto de estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam com tanta suspeita os escritores independentes.
E o literato Paulo José de Oliveira atento a esse poder de revolução e de subversão da literatura, imprime no poema Capitalismo Selvagem, publicado no jornal O Pergaminho, de outubro de 2010, a sua visão crítica sobre as relações de poder instaurados pelo capitalismo atual, quando diz:
Como um dos frutos da ambição
[ o capitalismo] é cria da ganância humana
Que como um canto de sereia
Desapropria a dignidade.
[...]
No capitalismo a educação não é certeza do saber
[...]
O sistema de cotas não é garantia de inclusão
E o fruto do sistema continua sendo a discriminação.

Crítica que se mistura ao saudosismo em outro texto, agora em prosa, no conto Meu Palácio Colonial, do livro Ponto de Partida, quando o eu-lírico do escritor, ao rememorar um local importante de sua juventude e não mais existente, nos escreve:
Hoje, ao retornar saudoso naquele rincão antes sagrado, deparo-me com o domínio do mercado e do capital selvagem.
Nenhum vestígio mais existe, daquele meu palácio medieval. Apenas o capim de um latifúndio, mais que especulativo, em uma triste paisagem deformada pelo progresso.
A voz indignada com o sistema, capaz de captar um dos importantes papéis da literatura, é daquele que além de ser Turismólogo formado pela Fatur/UNIFOR/MG, Educador Ambiental, pela UNB, e Técnico em Eventos, pelo IFET, é também Presidente e Gestor do Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Saúde de Formiga – tendo escrito o Guia Histórico da Saúde: do Germinar ao Frutificar; livro que conta a história dos 15 anos do sindicato –; além disso, é ativista eco- ambiental, humanista, sociocultural, fortemente atuante na cidade de Formiga e região, e Membro Vitalício da Academia Formiguense de Letras.
Mas a mesma voz engajada, apontada anteriormente, dá lugar à voz escorreita e lúdica do trovador, que é delegado representante da UBT (União Brasileira de Trovadores). Trova essa que muitas vezes é auto referencial, como  pode ser vista nos versos abaixo:  
Busquei a rima na fonte
Na inspiração de minh’alma
Juntei as letras, um monte!
_ Fiz uma trova sem trauma.

O seu “buscar na fonte” lembra-me outra afirmação, agora, de Gustave Flaubert, o genial escritor de Madame Bovary e de Uma Alma Simples, [que] fez ao dizer que “escrever é uma maneira de viver”. E lendo o poema Fieis Amigos, de autoria do neoacadêmico, é possível vislumbrar o quanto a escrita tornou-se necessária para seu estar e ser no mundo. A esse respeito, ouçamos as palavras do próprio PAJO:
A caneta tornou-se amiga
Extensão fiel de meu corpo
Assim, como o fino papel
Aliado silencioso
absorve
Meus desabafos, meus desejos,
Meus sonhos e inspirações.

Essa outra maneira de viver que a literatura nos possibilita, sugerida por Flaubert e demonstrada na intimidade por Paulo, nos versos lidos, precisa ser levada à frente, precisa ser valorizada, buscada e disseminada o tempo todo e em todo lugar. E ensinada pela vivência especialmente às novas gerações. Pois como bem disse o já citado Mario Vargas Llosa:
Um mundo sem literatura seria um mundo sem desejos nem ideais nem desacatos. Um mundo de autômatos desprovidos do que faz com que o ser humano seja verdadeiramente humano: a capacidade de sair de si mesmo e mover-se em outro, em outros, modelados com a argila de nossos sonhos.

Assim, para que você, Paulo, possa também nos ajudar a moldar com a argila de seus sonhos um mundo com mais literatura, com mais arte, que é, em nome da Academia de Letras do Brasil-Mariana, uma instituição que tem como objetivo a difusão da cultura e o incentivo às Letras e Artes – e que vem construído suas tramas com palavras e obras que nos entrelaçam cada vez mais à sociedade e não com paredes, que nos isolem do mundo – [ é em nome dessa instituição] que lhe dou as boas-vindas a esse grupo, para tomar posse como membro efetivo desta academia, da cadeira de nº 23, cuja patrona escolhida será sua conterrânea e literata, Maria Ruth de Souza Pinto.
Saudações e Muito Obrigada!

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