Por: Magna Campos
Caríssima
presidente da ALB- Mariana, Andreia Donadon-Leal;
Caro
Vice-Presidente da ALB-Mariana, J. S. Ferreira;
Presidente
Executivo e Editor da ALB-Mariana, J.B.Donadon-Leal;
E Secretário-Geral da ALB-Mariana, Gabriel
Bicalho;
A
todos vocês os meus cumprimentos, nesta tarde de sábado!
“Escrever [caros ouvintes] é uma arte que
brota n’alma. É uma arte que é alimentada no coração, impulsionada pela mente e
grafada na mão”.
É
com essa primeira citação ao trecho de um editorial da Folha Literária Formiga
em Letras, escrito por Paulo José de Oliveira, também conhecido pelo pseudônimo
de PAJO, que inicio o discurso de saudação ao neoacadêmico. Guiada muito mais
pelo calor de sua palavra criação, que pelo “frio” de um currículo que, nem
sempre, consegue representar satisfatoriamente o sujeito de quem se fala.
Afinal, como afirma o próprio neoacadêmico, ainda no editorial mencionado, é
“no escrever que se traduz o eu, mesmo que seja nas entrelinhas, ou na forma de
rabisco”.
E
escrever, especialmente na literatura, seria realmente ter a possibilidade de
criar um outro viver paralelo, no qual o mundo não tem mais que ser ordenado
por CRONOS, o deus do tempo, linear, torturante e esvaecente. Na literatura, o
caos pode se dissipar, o feio pode se embelezar, o instante pode se eternizar,
e em lugar de CRONOS, pode ser consagrado KAIRÓS, o tempo das coisas e não do efeito sobre as coisas. Não mais o
tempo da espera, mas o da esperança. O tempo não consumido pelo relógio, mas
experimentado em seus instantes-eternos e acima de tudo: saboreado!
Mas
literatura não é um luxo escapista, como pode parecer, é criação! E é graças aos desejos e anseios que ela inspira, às
mentalidades que [ela] criou e que continua criando, e à humanização do real,
que a sociedade ainda é capaz de se libertar de ditaduras, sejam elas
econômicas, religiosas, científicas e por que não, cultural, já que vivemos o
ápice da sociedade consumista, e nele, a cultura torna-se ela própria um objeto
cultural desejável ao consumo, muitas vezes irrefletido, promíscuo e banalizado.
É o valor do consumo que se impõe ao
próprio valor da coisa consumida.
Afinal,
como propõe o escritor sul-americano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de
2010, Mario Vargas Llosa, ao dizer que:
Quem dúvida que a
literatura, além de nos levar ao sonho da beleza e da felicidade, nos alerta contra
toda forma de opressão, pergunte por que todos os regimes empenhados em
controlar a conduta dos cidadãos, do berço ao túmulo, a temem tanto, a ponto de
estabelecerem regras de censura para reprimi-la, e vigiam com tanta suspeita os
escritores independentes.
E
o literato Paulo José de Oliveira atento a esse poder de revolução e de subversão
da literatura, imprime no poema Capitalismo
Selvagem, publicado no jornal O
Pergaminho, de outubro de 2010, a sua
visão crítica sobre as relações de poder instaurados pelo capitalismo atual, quando
diz:
Como um dos frutos da
ambição
[ o capitalismo] é
cria da ganância humana
Que como um canto de
sereia
Desapropria a
dignidade.
[...]
No capitalismo a
educação não é certeza do saber
[...]
O sistema de cotas
não é garantia de inclusão
E o fruto do sistema
continua sendo a discriminação.
Crítica
que se mistura ao saudosismo em outro texto, agora em prosa, no conto Meu Palácio Colonial, do livro Ponto de Partida, quando o eu-lírico do
escritor, ao rememorar um local importante de sua juventude e não mais
existente, nos escreve:
Hoje, ao retornar saudoso
naquele rincão antes sagrado, deparo-me com o domínio do mercado e do capital
selvagem.
Nenhum vestígio mais existe,
daquele meu palácio medieval. Apenas o capim de um latifúndio, mais que
especulativo, em uma triste paisagem deformada pelo progresso.
A
voz indignada com o sistema, capaz de captar um dos importantes papéis da literatura,
é daquele que além de ser Turismólogo formado pela Fatur/UNIFOR/MG, Educador
Ambiental, pela UNB, e Técnico em Eventos, pelo IFET, é também Presidente
e Gestor do Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Saúde de Formiga – tendo
escrito o Guia Histórico da Saúde: do Germinar ao Frutificar; livro que conta a
história dos 15 anos do sindicato –; além disso, é ativista eco- ambiental,
humanista, sociocultural, fortemente atuante na cidade de Formiga e região, e
Membro Vitalício da Academia Formiguense de Letras.
Mas
a mesma voz engajada, apontada anteriormente, dá lugar à voz escorreita e lúdica
do trovador, que é delegado representante da UBT (União Brasileira de
Trovadores). Trova essa que muitas vezes é auto referencial, como pode ser vista nos versos abaixo:
Busquei a rima na
fonte
Na inspiração de
minh’alma
Juntei as letras, um
monte!
_ Fiz uma trova sem
trauma.
O
seu “buscar na fonte” lembra-me outra afirmação, agora, de Gustave Flaubert, o
genial escritor de Madame Bovary e de Uma Alma Simples, [que] fez ao dizer que
“escrever é uma maneira de viver”. E lendo o poema Fieis Amigos, de autoria do neoacadêmico, é possível vislumbrar o
quanto a escrita tornou-se necessária para seu estar e ser no mundo. A
esse respeito, ouçamos as palavras do próprio PAJO:
A caneta tornou-se
amiga
Extensão fiel de meu
corpo
Assim, como o fino
papel
Aliado silencioso
absorve
Meus desabafos, meus
desejos,
Meus sonhos e
inspirações.
Essa
outra maneira de viver que a literatura nos possibilita, sugerida por Flaubert
e demonstrada na intimidade por Paulo, nos versos lidos, precisa ser levada à
frente, precisa ser valorizada, buscada e disseminada o tempo todo e em todo
lugar. E ensinada pela vivência especialmente às novas gerações. Pois como bem
disse o já citado Mario Vargas Llosa:
Um mundo sem literatura
seria um mundo sem desejos nem ideais nem desacatos. Um mundo de autômatos
desprovidos do que faz com que o ser humano seja verdadeiramente humano: a
capacidade de sair de si mesmo e mover-se em outro, em outros, modelados com a
argila de nossos sonhos.
Assim,
para que você, Paulo, possa também nos ajudar a moldar com a argila de seus
sonhos um mundo com mais literatura, com mais arte, que é, em nome da Academia
de Letras do Brasil-Mariana, uma instituição que tem como objetivo a difusão da
cultura e o incentivo às Letras e Artes – e que vem construído suas tramas com palavras e obras que nos
entrelaçam cada vez mais à sociedade e não com paredes, que nos isolem do
mundo – [ é em nome dessa instituição] que lhe dou as boas-vindas a esse grupo,
para tomar posse como membro efetivo desta academia, da cadeira de nº 23, cuja
patrona escolhida será sua conterrânea e literata, Maria Ruth de Souza Pinto.
Saudações e Muito Obrigada!
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