terça-feira, 17 de agosto de 2010

Aldravismo: literatura do sujeito - Movimento Literário da Modernidade Líquida

E falando em era da Fragmentação...
 
     Depois que Lázaro Francisco da Silva conceituou aldravismo, com a síntese necessária para o bom conceito, na cabalística edição de número 13 do Jornal Aldrava, sinto-me na obrigação de produzir a expansão desse preciso conceito: literatura focada no sujeito.
    Tradicionalmente a literatura tem direcionado sua reflexão para o próprio texto literário, preocupada com o gênero, com a estrutura narrativa e com a diferenciação do texto literário com outros tipos de texto. A literatura como arte, sua configuração na mimese, a figuração e a transgressão como regras básicas para a identificação do estatuto da literatura. A “boa literatura” confunde-se com a tipologia poética derivada dos gregos ou dos moldes clássicos de fazer epopéia, fazer soneto, fazer métrica, fazer rima, fazer lira, fazer... Coisas que os pretensiosos senhores da cognominada teoria da literatura, escrevo isso em minúsculas porque não creio na possibilidade de existência dessa aberração epistemológica, insistem em defender como possíveis. Só que o próprio pós-modernismo já representa a percepção dos equívocos cometidos pela crítica e pelos estudos literários ao longo dos séculos – arte e consumo se fundem na “ponta”, naquele que consome a obra.
    Como esquecer o texto, objeto idolatrado na história? Como substituí-lo? Seria o discurso o digno ente a ocupar o trono milenar do texto? Ou o discurso nos impele a pensar em quem produz tais entidades canonizadas – o sujeito? De qualquer forma, a aldrava não nos permite bater à porta do texto, nem do discurso, apenas abre a possibilidade de batermos à porta do sujeito desse texto e desse discurso.
    Esse sujeito, por certo, não é ego, prepotente e proprietário do que diz, mas remetente, portador, emissário das vozes das instituições que representa na enunciação. Mas, ao contrário daquele sujeito terceiro-mundista, sinistrofrênico, vítima compulsiva do FMI, do Planalto, da equipe econômica, da igreja, dos trombadinhas, dos novéis seqüestradores do relâmpago em caixas eletrônicos, do racismo intensificado pelos antropólogos, da reserva de vagas nas universidades para pretos, coxos, homossexuais, baixinhos, loiras, hiperdotados, hipermilionários, chorões da linhagem de Pixinguinha e dos políticos que fazem pouco caso da lei de responsabilidade fiscal ou dos que acham que brasileiro não sabe votar e que ainda tem que ser conscientizado, esse sujeito aldravista respeita diferenças e a livre escolha dos sujeitos autônomos em todas as suas instâncias, numa nação ainda crente na igualdade entre os homens.
    A sede de tomada de poder põe as oposições políticas como porta vozes do senso comum, alimentadas que são pelo desespero e pela incapacidade de análise daqueles que se sentem acuados por algum motivo. Esse senso comum, cego e afoito, alimenta aquilo que educadores e políticos chamam de crítica, ou espírito crítico, ou cidadania, algo nada crítico, pois é descritivo e parcial. O sujeito aldravista supera o desespero da pressão cotidiana e em estado de reflexão busca explicações para a ocorrência dos fatos, distenso e desvinculado do senso comum. Reproduzir o resultado do senso comum é atuar como juiz que condena sem proceder ao julgamento. O senso comum é fruto da pressa e do desespero. A crítica e a análise devem ser resultado de reflexão atenta aos detalhes das condições de produção de cada ato discursivo gerador de uma prática social.
    Por exemplo, quando um Ministro de Estado diz em uma carta de encaminhamento de um relatório a um grupo de funcionários que “quer” debater sobre algo com eles, esse Ministro quer dizer que tem ciência das vozes do senso comum de que ele não se dispõe ou predispõe ao debate. A afirmação passa a ser resposta ao senso comum. Se ele continua a carta dizendo que “tem consciência da importância da participação de...”, continua a dar resposta ao senso comum, acrescentando que ele atua democraticamente. Isso ilustra a atuação do analista de discurso ou do crítico, pois se esses concluem simplesmente que o Ministro não goza de credibilidade diante da população, ou que ele apenas faz jogo discursivo ou propaganda nas correspondências oficiais, não estarão fazendo nem crítica, nem análise, apenas estarão reproduzindo o senso comum. Também não quero dizer que a literatura aldravista deva ser crítica ou analítica. Ela não tem engajamentos, mas não é reprodutora do senso comum, pois é fruto do exercício de filtragem de informações e fazimento de voz autônoma, sabedor que é de suas vinculações institucionais e afetivas a grupos ou pessoas. Uma vez voz autônoma, diferenciada do senso comum, e provocadora desse senso comum, essa voz aldrávica é constitutiva do sujeito, pois apelativa, no sentido de provocar a mudança de atitude do outro, perlocutória, portanto, no sentido de tirar o outro de seu lugar para fazer-se ouvido dos deveres, algo taxado de piegas pelas políticas sinistrofrênicas.
    Sem a pressão tecnicamente modernista e politicamente pós-modernista do “vai ser gauche na vida”, o aldravista, autor, locutor e enunciador dos penduricalhos discursivos, ou seja, daquilo que o senso comum não alcança, mas admira, toca os sujeitos de cada ato discursivo gerador de culturas. Trata-se de um sujeito que percebe a existência do outro sujeito. Os produtos, textuais ou materiais de toda ordem, são apenas pretextos para a análise do seu criador, na sua prisão ou na sua liberdade.
conceituou aldravismo, com a síntese necessária para o bom conceito, na cabalística edição de número 13 do Jornal Aldrava, sinto-me na obrigação de produzir a expansão desse preciso conceito: literatura focada no sujeito.
    Tradicionalmente a literatura tem direcionado sua reflexão para o próprio texto literário, preocupada com o gênero, com a estrutura narrativa e com a diferenciação do texto literário com outros tipos de texto. A literatura como arte, sua configuração na mimese, a figuração e a transgressão como regras básicas para a identificação do estatuto da literatura. A “boa literatura” confunde-se com a tipologia poética derivada dos gregos ou dos moldes clássicos de fazer epopéia, fazer soneto, fazer métrica, fazer rima, fazer lira, fazer... Coisas que os pretensiosos senhores da cognominada teoria da literatura, escrevo isso em minúsculas porque não creio na possibilidade de existência dessa aberração epistemológica, insistem em defender como possíveis. Só que o próprio pós-modernismo já representa a percepção dos equívocos cometidos pela crítica e pelos estudos literários ao longo dos séculos – arte e consumo se fundem na “ponta”, naquele que consome a obra.
    Como esquecer o texto, objeto idolatrado na história? Como substituí-lo? Seria o discurso o digno ente a ocupar o trono milenar do texto? Ou o discurso nos impele a pensar em quem produz tais entidades canonizadas – o sujeito? De qualquer forma, a aldrava não nos permite bater à porta do texto, nem do discurso, apenas abre a possibilidade de batermos à porta do sujeito desse texto e desse discurso.
    Esse sujeito, por certo, não é ego, prepotente e proprietário do que diz, mas remetente, portador, emissário das vozes das instituições que representa na enunciação. Mas, ao contrário daquele sujeito terceiro-mundista, sinistrofrênico, vítima compulsiva do FMI, do Planalto, da equipe econômica, da igreja, dos trombadinhas, dos novéis seqüestradores do relâmpago em caixas eletrônicos, do racismo intensificado pelos antropólogos, da reserva de vagas nas universidades para pretos, coxos, homossexuais, baixinhos, loiras, hiperdotados, hipermilionários, chorões da linhagem de Pixinguinha e dos políticos que fazem pouco caso da lei de responsabilidade fiscal ou dos que acham que brasileiro não sabe votar e que ainda tem que ser conscientizado, esse sujeito aldravista respeita diferenças e a livre escolha dos sujeitos autônomos em todas as suas instâncias, numa nação ainda crente na igualdade entre os homens.
    A sede de tomada de poder põe as oposições políticas como porta vozes do senso comum, alimentadas que são pelo desespero e pela incapacidade de análise daqueles que se sentem acuados por algum motivo. Esse senso comum, cego e afoito, alimenta aquilo que educadores e políticos chamam de crítica, ou espírito crítico, ou cidadania, algo nada crítico, pois é descritivo e parcial. O sujeito aldravista supera o desespero da pressão cotidiana e em estado de reflexão busca explicações para a ocorrência dos fatos, distenso e desvinculado do senso comum. Reproduzir o resultado do senso comum é atuar como juiz que condena sem proceder ao julgamento. O senso comum é fruto da pressa e do desespero. A crítica e a análise devem ser resultado de reflexão atenta aos detalhes das condições de produção de cada ato discursivo gerador de uma prática social.
    Por exemplo, quando um Ministro de Estado diz em uma carta de encaminhamento de um relatório a um grupo de funcionários que “quer” debater sobre algo com eles, esse Ministro quer dizer que tem ciência das vozes do senso comum de que ele não se dispõe ou predispõe ao debate. A afirmação passa a ser resposta ao senso comum. Se ele continua a carta dizendo que “tem consciência da importância da participação de...”, continua a dar resposta ao senso comum, acrescentando que ele atua democraticamente. Isso ilustra a atuação do analista de discurso ou do crítico, pois se esses concluem simplesmente que o Ministro não goza de credibilidade diante da população, ou que ele apenas faz jogo discursivo ou propaganda nas correspondências oficiais, não estarão fazendo nem crítica, nem análise, apenas estarão reproduzindo o senso comum. Também não quero dizer que a literatura aldravista deva ser crítica ou analítica. Ela não tem engajamentos, mas não é reprodutora do senso comum, pois é fruto do exercício de filtragem de informações e fazimento de voz autônoma, sabedor que é de suas vinculações institucionais e afetivas a grupos ou pessoas. Uma vez voz autônoma, diferenciada do senso comum, e provocadora desse senso comum, essa voz aldrávica é constitutiva do sujeito, pois apelativa, no sentido de provocar a mudança de atitude do outro, perlocutória, portanto, no sentido de tirar o outro de seu lugar para fazer-se ouvido dos deveres, algo taxado de piegas pelas políticas sinistrofrênicas.
    Sem a pressão tecnicamente modernista e politicamente pós-modernista do “vai ser gauche na vida”, o aldravista, autor, locutor e enunciador dos penduricalhos discursivos, ou seja, daquilo que o senso comum não alcança, mas admira, toca os sujeitos de cada ato discursivo gerador de culturas. Trata-se de um sujeito que percebe a existência do outro sujeito. Os produtos, textuais ou materiais de toda ordem, são apenas pretextos para a análise do seu criador, na sua prisão ou na sua liberdade.

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