domingo, 12 de setembro de 2010

Houellebecq: o Ctrl+C/Ctrl+V como ‘método’

“Isso é parte do meu método”, disse o escritor francês Michel Houellebecq a uma rádio de Paris (trechos da entrevista são reproduzidos hoje pelo jornal inglês “The Independent”), em resposta à acusação de plágio que lhe foi feita semana passada pela revista eletrônica Slate.fr, que flagrou em seu recém-lançado romance La carte et le territoire longos trechos copiados da Wikipedia.
“Se esses caras pensam isso, não têm a menor ideia do que é literatura”, contra-atacou Houellebecq. “Essa abordagem, a da mistura de documentos reais com ficção, foi usada por muitos autores. Fui influenciado especialmente por Perec e Borges. Acredito que usar esse tipo de material contribua para a beleza dos meus livros.”
Para a promoção deles certamente contribui. Único nome da ficção francesa contemporânea a gozar de uma aura de estrela midiática, Houellebecq conseguiu mais uma vez provocar uma boa polêmica. A diferença é que agora, em vez das acusações de misogia ou islamofobia que pairavam sobre seus livros anteriores, surge a atualíssima questão dos limites entre o plágio e o sampling literário.
A jovem escritora alemã Helene Hegemann meteu-se em confusão parecida no início deste ano. Mas com Houellebecq, autor consagrado, o assunto ganha mais destaque e relevância. Como Hegemann, ele não deu crédito às fontes em que foi pós-modernamente buscar os retalhos da sua colcha. Isso não seria má-fé?
A discussão vai longe, mas os trechos quase idênticos descobertos pela Slate.fr ao confrontar o romance com verbetes da Wikipedia.fr são constrangedores. Está certo que, contextualizados numa obra de ficção, eles ganham outro sentido e não são mais que um grão de sal na ratatouille. Isso provavelmente torna exagerada a acusação de plágio, mas… e a de preguiça, não conta?

Por: Sérgio Rodrigues

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