sábado, 21 de agosto de 2010

Nós que aqui estamos, por vós esperamos - Filme Doc. Marcelo Masagão

NÓS QUE AQUI ESTAMOS, POR VÓS ESPERAMOS


O documentário “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, dirigido por Marcelo Masagão e lançado no Brasil em 1999, é uma memória do século XX.

O diretor dá uma volta ao mundo passando por guerras, dirigindo o olhar para a conseqüente banalização da vida e da morte. Aborda a industrialização do mundo – ou das partes que passaram pelo processo de modernização industrial – trata da alienação dos trabalhadores que se transformaram em peças da engrenagem capitalista. Mostra regimes totalitários, religiões, em suma, humaniza e contextualiza a história do século passado.

Masagão fala da mudança nas formas de comunicação após o advento do telefone, da energia elétrica, do rádio. Mostra a evolução da independência feminina ao longo do século, a produção em série de utensílios domésticos e carros.

Relembra a queda do Muro de Berlim, a violenta Revolução Cultural na China dos anos 70, sob os pés de Mão Tsé-Tung; a extração aurífera em Serra Pelada, no Brasil; a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e o inevitável desemprego da população, a fome, a perda da dignidade e a inutilidade dos diplomas dos letrados da época.

A dissipação de famílias e sonhos nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, devastadas pelas bombas atômicas; cita intelectuais, cientistas, escritores subversivos que tiveram seus livros queimados em praça pública por soldados nazistas.

A solidão e a injustiça das guerras. Traumas, humilhações, desespero, protestos, suicídios e ilusões.

Chefes de Estado como Stálin, Hitler, Pol Pot, Franco, Pinochet, Médici, entre outros, que causaram a morte de milhões de pessoas, motivados pelo que o autor chama de paranóia, são apresentados de forma clara e sem filtros.

O Girl Power na década de 20 é muito bem retratado por mulheres em passeata, queimando sutiãs, entrando no mercado de trabalho sob o lema feminista “We can do it!”.

Os maiôs encurtam, as mini-saias ganham adeptas, o controle da natalidade choca, mas permanece. Mulheres fumam, bebem, dançam, livram-se das amarras do lar.

A arte mostra a nudez de várias formas, de Duchamp a Munch, os artistas expressam a igualdade entre os sexos, que é exaltada e passa a ser valorizada. Religiões como o Islamismo, o Judaísmo, o Hinduísmo e o Candomblé são abordados como formas de buscar a Deus e Masagão “choca” o espectador ao mostrar uma criança “em alguma esquina do hemisfério sul”, a espera de Deus. Abandonada, indefesa, e ainda assim, viva.

Recorda a paz budista de Mahatma Gandhi, no Tibet, que venceu resistências imperialistas sem dar um tiro sequer.

O filme é todo exibido em preto e branco e no fim um cemitério é filmado em cores. No portal a frase: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” deixa ao espectador perguntas e respostas que só a linguagem cinematográfica é capaz de produzir.

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